É do Maranhão que veio uma oportuna posição crítica sobre este costume de fazer da morte dos políticos um momento de hipocrisia, quando se busca lembrar qualidades que o falecido não fez questão alguma de cultivar enquanto esteve vivo. Falei disso aqui, comentando o quanto se mentiu sobre a vida do ex-vice do Lula, José Alencar.
Foi a família do ex-governador Jackson Lago que deu o bom exemplo. Logo que foi anunciada a morte de Lago, o senador José Sarney soltou uma nota cínica cheia de lamentos. Estava claramente tentando se aproveitar politicamente da comoção com a morte do adversário
Sarney caprichou na nota, mas levou um chega pra lá da família do morto. A atitude de Sarney me lembrou a do então presidente Lula no enterro de Ruth Cardoso. Com a diferença que a família dela aceitou que ele posasse para os fotógrafos com cara compungida ao lado do caixão da mulher de Fernando Henrique Cardoso. E isso foi poucos meses depois de seu governo acusar o casal de gastos excessivos quando FHC foi presidente.
Se deixassem, Sarney com certeza teria cara-de-pau até para segurar a alça do caixão de Jackson Lago. A nota é um dos cocumentos mais cínicos dessa República em que tantos documentos cínicos foram produzidos. Porém, mesmo com tanta hipocrisia dando lastro à política brasileira a nota do Sarney é uma peça tão rara que vale a pena ser transcrita na íntegra. Lá vai:
“A morte é um fenômeno transcendental que encerra todas as vicissitudes da vida. É com grande comoção que lamento o falecimento do Governador Jackson Lago, figura expressiva que dominou a política maranhense durante quase meio século. É com respeito que proclamo o seu caráter, a coerência na defesa de suas idéias e o idealismo com que exerceu os vários cargos que ocupou na vida pública. Ele deixa o exemplo de cidadão, de chefe de família, de homem público e o Maranhão tem a gratidão dos serviços que prestou à nossa terra.
Eu e Marly nos associamos à dor de sua esposa e de sua família, do povo maranhense e da classe política pela perda que acabamos de ter. Pedimos a Deus que nos conforte com a lembrança de sua vida e de tudo de bem que fez pela sociedade, pelo Estado e pelo País”.
O beletrista que protagoniza o livro “Honoráveis Bandidos” deve ter pensado que o palavrório seria tocante. Sarney só não explica porque maquinou de todas as formas para tirar um homem tão bom do governo do Maranhão, o que acabou conseguindo fazer para botar a filha no governo maranhense que ela havia perdido nas urnas.
Mas os amigos e familiares de Jackson Lago não se deixaram enrolar num momento de tanta comoção. O ex-chefe da Casa Civil do Maranhão e ex-deputado estadual do PSDB, Aderson Lago, primo do ex-governador, foi no ponto ao repudiar a nota: “A máfia que mata é a mesma que manda flores, faz elogios e vai ao enterro”. (Por José Pires no Brasil Limpeza)
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