Igreja católica lança carta aberta por justiça ambiental em Açailândia.
Domingo 13 de Março o Bispo de Imperatriz, Dom Gilberto Pastana abriu oficialmente a Campanha da Fraternidade 2011. Mais de 800 pessoas se reuniram no ginásio do complexo poliesportivo da Vila Ildemar para a celebração da Missa. Na homilia Dom Gilberto frisou a importância da defesa da vida, de todo tipo de vida e, conforme ao tema e ao lema da CF2011 convidou os fieis para que se façam gestos e ações concretas que visem a defesa da vida e do meio ambiente. Sempre na homilia o bispo lembrou como o modelo de desenvolvimento que é predominante em nossa região seja um modelo baseado simplesmente sobre o lucro para poucos e prejuízos para muitos. Como gesto concreto e compromisso para a campanha da fraternidade as três paróquias da cidade lançam uma carta aberta pedindo as autoridades mais justiça ambiental para Açailândia. A carta é acompanhada por um abaixo assinado que será entregue as autoridades finalizando a quaresma.
Eis na integra o texto da carta aberta:
A criação geme em dores de parto
Petição do povo de Deus por justiça ambiental em Açailândia
Nós, Igreja Católica de Açailândia e Diocese de Imperatriz, acreditamos que o desenvolvimento de nossa cidade passa pelo respeito ao meio ambiente e a todas as pessoas.
A Campanha da Fraternidade, promovida pela Igreja Católica no Brasil inteiro, enfoca nesse ano o desafio das mudanças climáticas e do aquecimento global.
Reconhecendo a importância do trabalho e dos empreendimentos industriais em Açailândia, queremos porém responsabilidade de todos frente a esses desafios.
Subscrevemos, portanto, essa carta aberta e petição:
- Preocupa-nos a agressão ao meio ambiente e às comunidadesprovocada pela presença das siderúrgicas e do Programa Grande Carajás da Vale em nossa região
Para a produção de 1 ton de ferro-gusa são consumidos, em média, 3,8 m3 de madeira de eucalipto ou 5,8 m3 de madeira nativa. Quanta floresta foi devorada até hoje pelas siderúrgicas? Quantas terras serão cada vez mais invadidas por eucalipto para alimentar essa cadeia, expulsando famílias camponesas? Por que ainda hoje, há mais de vinte anos de sua instalação aqui, as siderúrgicas investem ainda muito pouco nas tecnologias disponíveis contra a poluição? O que se sabe sobre o impacto das empresas na saúde dos moradores de Açailândia?
- Solidarizamo-nos com o distrito industrial de Piquiá, onde milhares de pessoas sofrem de forma mais forte o impacto da poluição. É um problema da cidade inteira, não queremos ser conhecidos no Maranhão e em todo o Brasil como uma das cidades mais sujas e impactadas pelo desenvolvimento!
- Pedimos que o reassentamento do povoado de Piquiá de Baixo, expulsado injustamente pela poluição, pelo menos aconteça rapidamente e com garantias de qualidade e dignidade para as 350 famílias, nossas irmãs.
O Ministério Público deve reforçar a equipe de promotores que se ocupa desse caso e assumir com coragem seu papel de garante dos direitos das vítimas; as siderúrgicas e a Vale, o Estado e o Município não podem fugir de suas responsabilidades e devem contribuir economicamente para garantir o dinheiro necessário à construção do novo bairro.
- Preocupa-nos a condição do ar que respiramos e das águas de nossos rios. Pedimos que o Ministério Público convoque, no primeiro semestre de 2011, uma audiência pública em que as empresas siderúrgicas operantes em Açailândia apresentem os relatórios de monitoramento mensais de 2010 da poluição do ar e da água; o Estado apresente os relatórios de monitoramento e fiscalização da poluição realizados em 2010 e a Prefeitura também apresente as medidas tomadas de acordo com suas obrigações legais. Outra audiência pública deve ser convocada pelo MPE para que a Vale apresente à população seu projeto de duplicação dos trilhos e os impactos previstos para o bairro da Vila Ildemar e para toda a cidade.
Com milhares de pessoas participaremos da Romaria da Terra e das Águas, no distrito de Piquiá - dia 10 de setembro de 2011, para celebrar finalmente uma Açailândia que se preocupa mais com seu meio ambiente... ou voltar a denunciar, junto com pessoas que virão de todo o Maranhão, o descaso e a ganância que ainda vigoram em nossa cidade.
Antonio Soffientini
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