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terça-feira, 7 de junho de 2011

Ah, Açailândia ! 30 anos de emancipação política-administrativa: o tempo passou, e mudou! (para o melhor e para o pior...)



Quem diria, trinta anos depois! Como o tempo passa rápido! Parece que foi ontem: o movimento pela ‘emancipação’, o plebiscito, os vereadores Joaquinzinho e Raimundo Sampaio (depois prefeito, o primeiro), a criação do município pela Assembléia Legislativa, Marconi Caldas; o interventor “Nelsinho”, contador, professor, juiz de futebol; o deputado estadual Petrônio Gonçalves; a cassação de Raimundo Sampaio (a história já começou complicada; quinze, uma infernal sucessão de prefeitos/vice-prefeitos e vice-prefeita, em três anos, não se sabe como não se registrou Açailândia no livro de recordes, o Guiness Book...

Mas deixemos a história política-administrativa de lado... Conheci Açailândia em 1969, sim, 1969, meus pais vindo para o Maranhão, no rastro do “Grande Brasil” da ditadura, da “Transamazônica”, e instalaram-se naquele sonho meio socialista/cooperativista da “Colonia Agrícola /Cooperativa Mista de Gurupi”, do Ivo Marzall, de dona Maria Enfermeira, do Raimundo Primo, do ‘Gonçalo Costa’, do Valdevino Carvalho, do Claudino Galdino Andrade...

Isso aqui não passava de mero acampamento do “DNER” (hoje Dnit), a Belém-Brasília um tormento de estrada desafiando a saúde física e o equilíbrio mental de motoristas temerários/as... As ‘costelatas’ trepidavam até a alma, não apenas os ossos... ( o acampamento histórico hoje não passa de uma invasão...)

O Expresso Braga, que fazia a linha Belem-Brasilia, dormia em Imperatriz, no Hotel Anapólis, no Entroncamento... Daqui para Imperatriz, uma viagem corajosa e intrépida, fosse no verão ou no inverno, tinha a “Karajás”, e para São Luís, uma verdadeira aventura de caçadores de arcas perdidas, a “Transbrasiliana”...

Os velhos e heróicos e pioneiros tempos tiveram ainda a construção da Açailândia-Santa Luzia, a Br- 222 malfalada, a “estrada da morte”: como, Meu Deus morreu gente nesta estrada, desde seu começo até hoje; a construção da estrada de ferro, desde as eras da AMZA e da ambição e da febre do “Projeto Grande Carajas”, a onipotência, a onipresença da CVRD (a Valeriodoce estatal hoje a privatizada maior mineradora do mundo, espetacularmente lucrativa- não para o povo, lógico- que a lógica capitalista globalizada é a da capitalização dos lucros e socialização dos prejuízos)...

Açailândia, do “Casqueiro” ( o símbolo encravado e teimoso, o lado escuro/osbcuro da cidade...) “a zona” típica, os cabarés, o baixo meretrício, onde centenas e nos finais de semana milhares de peões de fazenda, ‘peões do trecho’, trabalhadores das estradas 222 e Belém-Brasilia, das serrarias, camioneiros, etc., etc., literalmente se matavam (não passava dia sem uma morte assassinada, quando não duas ou três, quem se importava?...).

O “Casqueiro” hoje é a “Cracolândia”, esses modernos guetos de domínio da droga e da bandidagem...Se nos próximos trinta anos não erradicarmos a "Cracolândia/Casqueiro", haverá ainda Açailândia (diante do avassalador crescimento das drogas?...)

Me lembro que o Almir, então dirigente sindicalista metalúrgico, dizia ao pessoal da CVRD/Valeriodoce, na inauguração da estação ferroviária de Açailândia, aí pelos meados dos anos noventa, e lamentava que o povo ‘merendeiro’ do Pequiá perdia a fonte de renda dos ‘bandecos’: “... quero ver no que vai dar esse progresso pro povo que vocês tanto propagandeiam..”. É, Almir, que fale sobre ‘progresso’trazido pela CVRD e as siderúrgicas, o povo do Pequiá de Baixo, do Assentamento Califórnia...

Açailândia, do ciclo madeireiro, das grandes empresas (Sunil, Cikell, Gramacosa...) e de centenas de serrarias médias e pequenas, não se sabe bem que legado ao povo deixaram, ainda não foi levantado...

Açailândia, da ocupação da terra a fogo e a bala, que tanto gente levou violentamente, inserindo nossa terra no mapa da violência fundiária, hoje refletida na vergonha do trabalho escravo, que na lógica do agronegócio e dos ruralistas, não passa de mero problema de lei trabalhista...

Açailândia, dos antigos ‘centros agrícolas’ (Água Branca, do Juarez, dos Gomes, etc.,etc) e dos acampamentos e assentamentos de hoje, em “crise de identidade e vocação” de agricultura familiar, das “roças”, entre o cerco do eucalipto e das pastagens...

Açailândia, que em dado momento de sua história, chegou a surpreender e considerar muito especialista, que ultrapassaria Imperatriz em ‘progresso’ ( graças que assim não foi, já pensou termos metade dos problemas da nossa cidade-mãe?...).

Mas história que foi (está sendo) feita na base da raça e do peito, como a do impulso no ensino, com o professor Dogival Gerônimo no saudoso “Colégio José Américo de Almeida”. ( na foto do blog do Gilberto Freire/Notícias do Freire, o professor Dogival e uma penca de açailandenses hoje ilustres cidadãos e cidadãs...)

Açailândia, de história emancipada recente, só trinta anos, mas muito movimentada, de muito a ser escrito e contado, terra sem dúvida muito rica, que tem proporcionado fortuna a nem tantos e tantas, e miséria e exclusão a tantos e tantas, e é apontada pela revista Veja como uma das vinte futuras metrópoles regionais brasileiras...

Das “periferias e pontas de rua”, de crianças aos magotes, que assustam pela marginalidade social, pelo clima de “território de ninguém”...

Terra de muito trabalho,mas terra também de muita injustiça, sobretudo contra crianças e adolescentes, quantos e quantas no abandono, na negligência, no trabalho infantil,no trabalho desprotegido de adolescentes, no abuso e na exploração sexual...


Injustiça e descaso para as pessoas com deficiência, que não tem como locomover-se com dignidade e segurança pelas ruas e avenidas e praças, exercer sua cidadania nesta cidade emancipada a trinta anos,mas absolutamente despreparada para seus/suas cidadão/ãs com deficiência...

Que dizem que de tão nova, não tem “cultura”, como se idiota ou burra fosse...Temos, sim, ‘cultura’, é o jeito do povo, esse povo misturado,meio desorganizado porque novo como povo ‘organizado’ social, politicamente, povo de só trinta anos emancipado! Estamos vivos ( a geração mais velha é sobrevivente ou vivente ?... é incrivel, mas confundem “cultura com velharia, com museu”...) , por isso temos sim ‘cultura’...

Ah, o “Mercado Municipal, a Praça do Mercado”, era, é, sempre, a referência de Açailândia. Se for para acontecer, tem que ser na “Praça do Mercado”: o comício político, o sorteio do bingo, a festa religiosa, e o “Açai Folia”, hoje a ‘micareta, carnaval fora de época, tido como o maior do interior maranhense...Não seja essa "folia" a referência da comemoração, isso cheira alienação...(A foto é do blog Gilberto Freire/Notícias do Freire),

É, Açailândia, trinta anos depois, muita coisa mudou, tanto para melhor como para pior, e muita coisa ainda mudará nos próximos trinta anos, tomara que seja só para melhor! (Mas estamos conscientes, planejados/as, preparados/as para isso?)... Parabéns para todos (e todas) nós, acailandenses de verdade, e que Deus esteja conosco, sempre! Paz , saúde, e em frente!

Por Eduardo Hirata
 

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