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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

No Maranhão dos Sarneys, dois em cada 3 habitantes vivem na miséria em Marajá do Sena


Pobreza extrema atinge 67% dos pouco mais de 8 mil moradores do município, segundo o IBGE
Pela segunda vez em dois meses, o município de Marajá do Sena foi, na noite de terça-feira (21), tema de reportagem da Rede Globo. Na matéria – exibida no “Jornal da Globo” –, Marajá do Sena é apontada como a cidade brasileira com maior percentual de pessoas vivendo na extrema pobreza: 67% (5.360 pessoas) dos pouco mais de 8 mil moradores. O dado é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e significa que dois em cada três moradores de Marajá do Sena vivem na miséria.
A matéria de terça também fala da pobreza extrema em outros lugares do mundo (Congo, Libéria, Índia e China) e do Brasil, que tem, segundo o IBGE, 12 milhões de miseráveis.
Reportagem do “Bom Dia Brasil” de 21 de junho já havia mostrado a precariedade das condições de vida dos moradores de Marajá do Sena: esgoto a céu aberto correndo na cidade, falta de saneamento básico e muitos moradores sequer contando com água tratada.
Emblemática foi a entrevista com Paula da Conceição, 16 anos, dois filhos e o terceiro a caminho.
Um curso profissionalizante de culinária, do programa federal Mulheres Mil, desenvolvido pelo Instituto Federal do Maranhão (Ifma) no campus do Monte Castelo, foi mencionado como uma saída para a situação de pobreza.
As duas matérias foram feitas pela repórter Cristina Serra. Veja ambas na íntegra:
Um dos temas em discussão na Rio+20 [Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, relizada em junho passado no Rio de Janeiro] é como acabar com a miséria e garantir um desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo.
A repórter Cristina Serra foi a Marajá do Sena, no Maranhão, para mostrar como vivem os moradores de uma das cidade mais pobres do país. Vencer a pobreza é o grande desafio.
O curioso nome da cidade se deve, em parte, ao sobrenome de uma família local, e também ao nome de uma fruta – o marajá. O nome é até uma ironia diante da realidade. Marajá do Sena pode ser chamada de capital da extrema pobreza do Brasil. Dois em casa três de seus habitantes vivem na miséria, segundo o IBGE.
Dona Francisca, 8 filhos e mais um a caminho, mostra a geladeira vazia. “É só água”, diz. E para o almoço? “É só água mesmo. É só o que tem”.
O esgoto corre a céu aberto. O saneamento é zero. Muitos moradores sequer têm água encanada. Falta trabalho para homens e mulheres.
“Muitas pessoas vivem da agricultura de subsistência, plantando arroz, milho, feijão, mandioca”, diz Djalma Maciel, secretário de Educação do município.
Benefícios sociais garantem alguma renda. Mais de 1.400 famílias em Marajá do Sena recebem o Bolsa Família, mas é difícil romper o ciclo de extrema pobreza.
Paula da Conceição tem 16 anos, duas filhas e está grávida mais uma vez. “É ruim, né. Ter em casa três ‘minino’ e não ter nada. Sem trabalhar, sem nada”, afirma a jovem.
Para o economista Fábio Soares, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que estuda o crescimento inclusivo, os programas de transferência de renda são importantes, mas não são suficientes.
“No caso do Brasil, a gente pode ter certeza de que a pobreza se relaciona com a desigualdade. Reduzindo a desigualdade, a gente também reduz a pobreza. Em algumas regiões, inclusive, é bem mais fácil combater a pobreza reduzindo a desigualdade do que gerando um crescimento elevado”, diz Soares.
Cursos profissionalizantes, como um que conhecemos em São Luís [Mulheres Mil], apontam um caminho. As aulas de culinária oferecidas pelo governo federal se destinam a mulheres de baixa renda.
“Ela vai aprendendo. E com a evolução que vai tendo no curso, ela pode caminhar sozinha”, diz Maria Tereza Fabbro, gestora do curso.
Foi o que aconteceu com Rosilda Castro. Doceira de mão cheia, ela tem tantas encomendas que criou uma microempresa em casa, com marca e cartão de visita. “Tenho muito esse desejo de crescer”. A conquista é registrada pela doceira com orgulho no album de retratos.
(Bom Dia Brasil, 21 de junho de 2012)
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De barco, de caminhão, só assim dá pra chegar em Marajá do Sena, cidadezinha de 8 mil habitantes no interior do Maranhão.
De acordo com o IBGE, Marajá do Sena é o município brasileiro com maior percentual de pessoas vivendo na extrema pobreza. São quase 67% dos moradores nessa condição. E isso não apenas porque a renda das famílias é muito baixa. Aqui a pobreza está em todo lugar: nas ruas esburacadas, no esgoto que corre a céu aberto, na falta de trabalho para os moradores.
Na casa de dona Miúda, nem ela nem o marido têm trabalho fixo. Ela tem 9 filhos e recebe R$ 100 por mês do Bolsa Família. O único alimento do dia – arroz – ela guarda no quarto, como um tesouro.
“Se eu tivesse um serviço para trabalhar, eu ‘tava’ com meu dinheiro na minha mão para comprar as coisas que as crianças merecem”, diz a mulher.
A extrema pobreza também está nas periferias das grandes cidades. Em Parelheiros (São Paulo), a vida é feita de incertezas. “Eu falo pros meus filhos: hoje tem, amanhã não tem”, diz Regina, que tem 8 filhos. Três deles deixaram a escola, e ela perdeu o dinheiro do programa social.
Na África, a miséria atinge países como a República Democrática do Congo, com 87% da população na extrema pobreza, e a Libéria, com 84%. Nos países emergentes, os números impressionam. Na Índia, são 394 milhões de miseráveis. Na China, 173 milhões. No Brasil, quase 12 milhões.
São vários os caminhos para se reduzir a miséria. “Mas no curto prazo, inclusive pensando que essas famílias tendem a ter mais filhos, a maneira mais fácil e mais efetiva seria aumentar o valor dos benefícios. Óbvio que o governo deve continuar fazendo as outras tentativas de aumentar a produtividade, a capacidade produtiva dessas famílias”, afirma o economista Fábio Soares, do Ipea. (Jornal da Globo, 21 de agosto de 2012)
Saiba MAIS
Marajá do Sena tem 8.050 habitantes (Censo 2010)
Gentílico: marajaense
Prefeito: Manoel Edivan Oliveira da Costa (PMN), 45 anos; natural de Paulo Ramos; Ensino Fundamental incompleto; valor dos bens declarados ao TSE: R$ 255 mil em 2008 e R$ 87 mil em 2012 (candidato à reeleição)
Vice-prefeito: Lourisvaldo Nascimento Dias (PT), 34 anos; natural de Lago da Pedra; Ensino Fundamental completo; valor dos bens declarados ao TSE: R$ 108 mil em 2008 e 440 mil em 2012 (candidato a prefeito)
Gastos que Manoel Edivan prevê gastar na campanha eleitoral deste ano: R$ 400 mil
Gastos que Lourisvaldo Dias prevê gastar na campanha eleitoral deste ano: R$ 150 mil
Total de recursos federais transferidos para Marajá do Sena em 2012: R$ 6,6 milhões
Total (2012) do Fundo de Participação dos Municípios (FPM): R$ 2,14 milhões
Total (2012) do Fundo Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb): R$ 2,74 milhões
Fontes: Portal da Transparência (CGU) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
POR OSWALDO VIVIANI (JP)

DEU NO JORNAL DA GLOBO

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