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segunda-feira, 30 de maio de 2011

VALQUÌRIAS: AGARRADOS A UM FIO DE FUMAÇA...

O “Grupo Cordão de Teatro” lança novo e instigante espetáculo 
“O espetáculo tem esse nome para lembrar VALQUÍRIA, a usuária de ‘crack’ mais conhecida de nossa cidade, porém não retrata em particular sua vida e sim a vida de tantas outras valquirias, tantas outras pessoas que por um motivo ou outro, resolveram usar o ‘crack’ e hoje não conseguem mais deixar o vício.
É um trabalho de pesquisa, que mostra o conflito de usuários de ‘crack’, suas ‘nóias’ e desespero para conseguir dinheiro e comprar mais droga.
Os personagens perambulando de um lado para o outro, acendem seus cachimbos e se perdem na fumaça que os liberta da realidade e os joga no abismo desconhecido da mente e depois no obsessivo prazer para ter mais alucinações.
O Grupo Cordão não faz julgamento a essas pessoas, pois no mínimo precisam de ajuda.
O Cordão entra em cena com uma montagem complexa, personagens perdidos em um universo que só eles conhecem.
As neuras e viagens vão além do prazer e da dor, perseguem o mundo obscuro da vida humana.
‘É mais que um espetáculo, é uma barbárie’.
‘Espetáculo teatral dividido em quatro nóias’.
‘O cáos organiza o espetáculo’.”
 (Adaptado do texto-convite do Grupo Cordão de Teatro)
*
“ME DÁ 1 REAL!”


Valquírias está prestes a estrear e estamos ansiosos... Ontem tivemos ensaio e ao sairmos fomos fazer um lanchinho, nada de massas nem refrigerantes (muito dificil porque eu AMO pastel, pizza...). Após o lanche Xico, Fredson e eu descemos a mesma rua, em seguida Xico se despede e Fred e eu continuamos a caminhada. Valquíria (a usuária mais conhecida na cidade cujo tema da peça foi baseado em sua experiência) estava rodeada por jovens numa lanchonete, nos viu passar e pediu que a esperássemos... paramos. Terminada a conversa com a galera, ela nos acompanhou e quis saber da peça, que dia seria, como a gente falava, como era. Relatou que estava fumando seu cachimbo e viu o Xico na TV, na hora não sabia se continuava fumando ou assistia à reportagem, nós três rimos. Valquíria quis saber até que série eu havia estudado, a respondi, ela falou que é importante, é bom estudar. Ao terminar a conversa que deve ter durado mais ou menos dez minutos, ela me pede 1 real pra comer um enroladinho, pergunto se o Fred tem e ele tira do bolso duas moedas... apertamos as mãos e ela sai dizendo que vai vê-la em Valquírias.
(Por Gracinha Donato, atriz de “Valquirias”. Do blog Cordão de Teatro) 
* Meu comentário:
. “Valquírias” foi apresentado na noite desta quinta-feira, 26/05, no Salão Paroquial São João Batista. 
 Produzido por Marcos André, direção de Xico Cruz em criação coletiva com o elenco formado por Edvirge Maria, Gracinha Donato, Fredson Silva e Maikaell Carvalho, com projeto gráfico de Marcelo Ricardo e fotos de Marcelo Cruz, “Valquírias” é uma obra instigante, impactante, que demonstra a maturidade do Cordão de Teatro (embora Edvirges Maria e Fredson fossem  apresentados como iniciantes...) e comprova todo o talento, criativo, inovador e provocante, na linha do teatro do oprimido, ou de José Celso Martinez e seu teatro oficina, do diretor  Xico Cruz.
A realidade dos/as usuários/as de ‘crack’, a ‘nóia’, simbolizada não só na Valquíria tão conhecida, mas em todas ‘Valquírias” pessoas, de nossa Cracolândia (o Casqueiro...): as três irmãs, abusadas e exploradas, pela droga e tráfico e pelo sexo, pelo mesmo traficante e rufião, caso emblemático na área; ou os “pés-inchados” e “zumbis”, como  também são denominadas “as Valquírias”,pela  população açailandense. 
Um espetáculo forte, sem apelação, mas com teor de denúncia que clama por no mínimo indignação, esperneio diante da indiferença e da omissão que se vê pelas ruas, avenidas, praças, brs, frente ao cenário de degradação humana das “Valquírias”...
Sem muitas palavras (... uma imagem, ou uma cena, vale por mil palavras...), “Valquírias” tem momentos marcantes justamente nessas poucas palavras: “... me dá 1 real!”, repetida e repetida na insistência que se vê na vida real das “Valquírias” em sua saga diária pelo ‘crack’ destruidor/salvador, e “... pai, pai... mãe, mãe...”, de Édipo Rei, conforme tão bem explicou o diretor Xico Cruz.
O envolvimento do público foi constatado na conversa séria, um toma lá-dá cá, com Xico, as atrizes Edvirge Maria, Gracinha, Fredson, Maikaell,  após o espetáculo ( a conversa, aliás, fez parte do espetáculo...), amainado por vinho e rodada de queijos...
 Certamente, sem falsos moralismos ou resistências pré-concebidase  escondidas, muita gente  tomou uma nova consciência da problemáticas das drogas, sobretudo no “submundo imundo da Cracolândia açailandense”, que traga às profundezas da destruição, “Valquírias”, que são seres humanos, são vidas, embora hoje pareçam farrapos...
Por Eduardo Hirata

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